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ARTIGO DE OPINIÃO- A FLORESTA É O FUTURO: O AMAPÁ NA AGENDA CLIMÁTICA, ENERGÉTICA E DE SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA

Por Euridece Pacheco Ruella
Servidora Pública Cofundadora e Diretora Executiva da Polítika Assessoria
Especialista em Gestão Pública
Mestre em Direito Ambiental e Políticas Públicas
Dama Comendadora da Câmara Brasileira de Cultura e
Antonio Roberto de Souza Góes
Capitão do CBM/AP
CEO da Polítika Assessoria
Especialista em Gestão Pública
Pós-Graduado em Segurança Pública

O Brasil vive um momento decisivo na agenda global do clima e da transição energética.
Às vésperas da COP 30, o país reafirma sua responsabilidade de liderança ambiental,
enquanto busca consolidar um novo modelo de desenvolvimento capaz de conciliar
crescimento econômico, justiça social e conservação dos ecossistemas. Essa transição,
contudo, exige mais do que o avanço tecnológico: requer uma profunda transformação na
forma como compreendemos o território, o uso dos recursos e o papel do Estado no
planejamento sustentável.
Nesse contexto, o Amapá desponta como um território de relevância estratégica singular.
Com indicadores de cobertura vegetal preservada elevadíssimos e um dos maiores
contínuos de manguezais do planeta, o estado concentra biomas que conectam floresta,
cerrado e ecossistemas costeiros, constituindo um verdadeiro laboratório natural para a
inovação ecológica e climática. É nesse espaço que o debate sobre transição energética e
exploração de petróleo assume contornos complexos e decisivos. A questão central não
se resume à possibilidade de exploração, mas à forma como ela ocorrerá e ao legado que
deixará para as próximas gerações.
Dessa forma, as Soluções Baseadas na Natureza (SbN) ganham força nesse cenário como
instrumentos estratégicos para alinhar desenvolvimento e sustentabilidade. Partindo da
premissa de que a própria natureza oferece respostas eficientes e economicamente viáveis
aos desafios humanos, as SbN englobam práticas como restauração florestal, manejo de
bacias hidrográficas, agricultura regenerativa, conservação costeira e valorização de
serviços ecossistêmicos.
No Amapá, onde a integridade ambiental é um ativo real, essas soluções se tornam
fundamentais não apenas para mitigar impactos, mas para regenerar paisagens e gerar
valor econômico a partir da conservação. O mercado internacional de créditos de carbono
e biodiversidade aponta nessa direção, e o Amapá tem potencial concreto para transformar
sua riqueza ecológica em ativo financeiro e social. Entretanto, para que isso se realize, é
indispensável planejamento, governança e integração entre políticas públicas, setor
produtivo, universidades e comunidades locais.

A chegada de grandes empreendimentos energéticos na região representa um teste de
maturidade institucional. Exige do Estado e da sociedade civil uma nova capacidade de
coordenação e decisão, capaz de demonstrar que é possível compatibilizar investimentos
robustos com sustentabilidade efetiva. Isso implica construir uma carteira estadual de
soluções socioambientais, que articule restauração ecológica, gestão de carbono azul,
fortalecimento de cadeias produtivas tradicionais, incentivo à bioeconomia e inovação
verde, além de educação científica voltada à realidade amazônica. Tais iniciativas devem
ir além da compensação ambiental, configurando uma verdadeira infraestrutura viva —
uma base que protege, regenera e impulsiona o desenvolvimento de forma equilibrada e
duradoura.
Essa transição energética e ecológica, entretanto, não se sustentará apenas em tecnologias
limpas. Ela depende de um novo modelo de governança pública, baseado em ciência,
transparência e participação social. No caso do Amapá, isso significa fortalecer
instrumentos como o Zoneamento Ecológico-Econômico e o Sistema Estadual de Meio
Ambiente, criar mecanismos de financiamento climático e adotar indicadores
socioambientais que orientem políticas de longo prazo. A gestão pública deve atuar como
articuladora estratégica, garantindo continuidade institucional e a integração entre saberes
técnicos, comunitários e científicos. Sustentabilidade não se consolida com boas
intenções, mas com execução planejada e visão de futuro.
O Amapá tem diante de si uma oportunidade rara: planejar o desenvolvimento antes que
ele aconteça de forma desordenada. Sua integridade ecológica, baixo passivo ambiental e
forte identidade cultural com a floresta o colocam em posição privilegiada para
protagonizar a transição ecológica brasileira. Transformar essa vantagem em política
pública significa investir em conhecimento, inovação e monitoramento, reconhecendo
que o verdadeiro desenvolvimento amazônico é aquele que não destrói o que o mundo
inteiro busca preservar.
O petróleo pode representar um ciclo econômico importante, mas não deve definir o
destino do estado. O desafio é transformar esse momento em um ponto de inflexão, no
qual o Amapá consolide um projeto de desenvolvimento sustentável de longo prazo, em
que a floresta, os rios e os manguezais sejam reconhecidos como ativos estratégicos e não
como obstáculos. As Soluções Baseadas na Natureza nos lembram que a tecnologia mais
avançada ainda é a própria vida, e que a floresta não representa atraso, mas vanguarda.

A transição energética, portanto, só fará sentido se for também uma transição civilizatória
— se mudar a maneira como nos relacionamos com os territórios, as pessoas e o tempo.
O Amapá pode e deve ser o território onde o Brasil demonstra que desenvolvimento e
natureza não são forças opostas, mas partes de um mesmo projeto de futuro, no qual a
economia floresce sem desflorestar e o progresso nasce, literalmente, da floresta.

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