Diretor da Fundação Florestal é confrontado por vereadores, pescadores e moradores; população segue contra criação do Tartaruga-de-Pente
A audiência pública sobre a proposta de criação do Parque Estadual Marinho Tartaruga-de-Pente, realizada na noite da sexta-feira (16 de maio de 2025), na Câmara Municipal de Ubatuba, foi marcada por protestos, plenário lotado e embates diretos entre autoridades estaduais e representantes da cidade.
O diretor executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, apresentou os objetivos do parque, defendendo a criação da unidade como um “escudo” contra a especulação imobiliária e náutica. Disse ainda que a cidade está “explodindo” e comparou Ubatuba com Paraty e Chapada dos Veadeiros.
Durante a exposição, Levkovicz leu trechos do plano de manejo da APA Marinha do Litoral Norte, defendendo que a “passagem inocente” de embarcações seria permitida, inclusive para barcos pesqueiros — desde que sem redes na água ou pescado solto no convés. Admitiu, porém, desconhecimento sobre práticas de navegação e pesca ao citar “tangone” e “portas”, afirmando que “não manja” da técnica.
O vereador Pastor Sérgio (DC), pescador de profissão, foi direto: “É impossível aquilo estar escrito por alguém que entende o mar em dia de tempo ruim”. O plenário aplaudiu.
O vereador Rogério Frediani (PL), na política desde 1992, apontou contradições entre a apresentação em PowerPoint e o conteúdo do relatório técnico da Fundação. Disse ainda ter testemunhado a exploração da Ilha Anchieta por empresas privadas com anuência do Estado: “Tem coisa errada nessa parada. Tem dinheiro envolvido nisso”. Levkovicz não respondeu.
Em um dos momentos mais tensos, o marinheiro Talles Veloso foi interrompido com gritos de “isso é mentira” por parte do diretor da Fundação. Talles reagiu: “Está gravado. Não admito ser chamado de mentiroso. Sou pai, cristão e trabalhador. O senhor vai ter que se retratar”.
A audiência, com mais de três horas de duração, teve maioria absoluta do público contra o parque. Monitores ambientais da BK Consultoria e a gestora do Parque da Ilha Anchieta estavam entre os poucos favoráveis.
A população teme uma “canetada” do Governo Estadual, prática comum desde a década de 1970 no Litoral Norte.
A reportagem da Guardiã da Notícia procurou novamente a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) e a Fundação Florestal, que ainda não responderam. O espaço segue aberto.